Eu sou minha, e me entrego a ele por prazer [...]

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Ele disse que estava começando a me achar muito egoísta, que eu estava pensando mais em mim do que em nós dois. Eu disse que ele não precisava achar, que era pra ter certeza mesmo. Eu realmente estava pensando mais em mim. Eu estava me colocando em primeiro lugar. Eu disse com todas as letras: Primeiro EU, depois nós dois.
Ele ficou pasmo, chateado e revoltado. Disse que iria mudar sua postura também, e que a partir daquele dia iria se colocar em primeiro lugar.
Comemorei! Festejei! Disse a ele que isso era perfeito, que esse era o caminho para a verdadeira felicidade.
Depois daquele dia nos afastamos, passamos mais tempo sozinhos, aprendendo dia após dia a cultivar o amor próprio, aprendendo a nos valorizar, a colocar nossas vontades em primeiro lugar.
Ficamos mais seguros, voltamos as velhas amizades, aquelas que foram deixadas para trás quando vivíamos numa redoma chamada "relacionamento abusivo", voltamos a sorrir de verdade.
Reconhecemos que não éramos completos quando pertencíamos um ao outro, sem poder conhecer um novo amigo, sem poder sentar num bar legal e beber uma cerveja. Éramos sufocados pela necessidade de estar perto um do outro 24 horas por dia, sempre com aquele medo de aparecer alguém melhor, aquele medo da carne ser fraca, aquele medo de ficar sozinho.
Eu já estava esgotada com aquela relação, que no início era repleta de amor e respeito, onde ele era meu melhor amigo, e podíamos falar sobre tudo. Mas com o passar do tempo, ficamos doentes. Éramos viciados um no outro, como se fosse uma prisão sem grades. Ele se tornou opressor, e eu opressora. Vivíamos na nossa própria ditadura. Mas não tínhamos ideia de que aquilo era errado. Pois fomos criados assistindo a novela das oito, onde o mocinho perfeito casa com a mocinha perfeita. Fomos criados para amar alguém incondicionalmente, o romantismo foi injetado em nossas mentes, e o sonho adolescente de encontrar a alma gêmea estava sempre presente. Os livros não falavam sobre o amor próprio, sobre liberdade, ou qualquer outra coisa que nos mostrasse que relacionamentos não são a base de nossas vidas.
Nossa vida foi baseada em acreditar que só se é feliz quando se tem alguém. 
Nosso amor era verdadeiro, era puro. E eu não queria que ele morresse por causa de uma cultura doente.
Por isso olhei para o espelho e percebi que eu me amava acima de qualquer coisa, e por ama-ló, queria que ele se amasse também.
Foi difícil começar do zero, mudar nossa visão de relacionamento e abrir nossa mente. Mas foi a melhor coisa que já fizemos.
Hoje somos casados, somos melhores amigos. Ele sai na sexta ou no sábado à tarde, conversa com seus amigos, toca com sua banda, e volta pra casa cheio de novidades. Eu saio para passear com minhas amigas, damos risada, dançamos e festejamos. E eu volto pra casa louca de saudade. Eu sou minha, e me entrego a ele por prazer. E ele me agradece por ter lhe mostrado um espelho lindo, chamado amor próprio. Eu sou minha prioridade, ele é a prioridade dele, e juntos temos construído uma vida repleta de respeito e amor. Estamos juntos porque queremos, não sentimos mais medo da traição e da solidão. Existe lealdade, cumplicidade e paixão. Não existe mais aquela redoma. O mundo é o nosso lar.


Escrito por Helena Ferreira.

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